Reitora fala sobre as ideias para a gestão: “O que tenho em mente é que haja ampla participação de todos” - "São esforços para garantir que as políticas que estão sendo implementadas realmente funcionem "
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ACS: Na discussão em relação à rede Anísio Teixeira, a proposta da chapa Pé no Chão previa a consolidação dos Colégios Universitários. O que já está em andamento para efetivar essa proposta? E podemos mesmo esperar a expansão dos Colégios Universitários?
Joana: Eu posso estar sendo muito ousada diante do quadro caótico que temos no país hoje, em termos das incertezas quanto ao futuro político e econômico, mas tenho o plano de, já no ano que vem, expandirmos a rede. Já temos três salas em funcionamento no Campus Jorge Amado para transmissão de aulas, com quadros interativos, câmeras, melhor visibilidade da sala remota por parte do professor e dos estudantes. Tudo isso são formas de garantir interatividade maior, e a gente precisa incentivar que os professores usem essas tecnologias. Temos três salas em Itabuna, montamos duas em Teixeira de Freitas e duas em Porto Seguro com esses equipamentos. Na conversa com o Secretário, dissemos o seguinte: ‘se há interesse nesses cursos de formação de professores, então a gente quer que vocês nos forneçam salas com boa conexão e que nos deixem instalar nossos equipamentos lá’. A intenção é começarmos a trabalhar nessa parceria com a Secretaria. Nada impede que haja um Colégio Universitário lá em Canavieiras se tivermos uma sala que permita transmissão daqui [de Itabuna] para lá, de forma qualificada. Já temos essas salas qualificadas. Tem professor que está dando aula para duas turmas ao mesmo tempo e está sendo tranquilo, os estudantes estão gostando. Se tiver três salas dessas e se, em cada uma, é possível dar aula para dois Cuni ao mesmo tempo, então é possível ter seis Colégios Universitários com seis turmas simultaneamente só em Itabuna, se tivermos esses espaços e uma conexão decente. Estamos trabalhando para qualificar essas salas nos Colégios Universitários para que, já no ano que vem, possamos expandir. Outra questão em relação aos Colégios Universitários é pensar em formatos diferentes. Por exemplo, se abrirmos um Cuni em uma aldeia indígena é porque tem uma razão de estar em uma aldeia indígena. Talvez a forma de ensinar, o tipo de material que será necessário levar para aquela sala vai ser diferente do que se leva para um estudante não-indígena que tem outro contexto e outras necessidades. A gente precisa pensar um pouco em não agir de forma padronizada. E se for implantar um Cuni dentro de um assentamento? Tem uma série de questões particulares que será necessário considerar. O que aqueles estudantes querem aprender com base no que vivem naquele contexto? Uma comunidade quilombola, uma comunidade de assentamento tem toda uma dinâmica de conhecimento particular. Aprendem e ensinam sobre a forma das relações com a terra, e a gente aprende muito com eles. Então, não pode ser algo que pareça que estamos indo para ensinar, do alto da nossa titulação. Vamos para aprender e ensinar. Tem de ser uma dinâmica que respeite e que atenda as particularidades de cada comunidade. Uma aldeia indígena é diferente de um assentamento, que difere de uma comunidade quilombola. Tudo isso tem que ser considerado no trabalho que estamos propondo a essas pessoas.
ACS: Em termos da pesquisa, um dos pilares da universidade, está sendo pensada a criação de uma política voltada para essa atividade? E, dentro do nosso modelo, que propõe diferenças estruturais e processuais, qual seria o perfil de uma Pró-Reitoria que gerisse a pesquisa?
Joana: A pesquisa, na nossa universidade, está muito no pulso do voluntarismo. As pessoas fazem pesquisa porque já vieram de outras universidades com pesquisas iniciadas, trazem seus projetos, já trouxeram até grupos de pesquisa. Alguns já conseguiram criar algo, mesmo que incipiente, na UFSB. A universidade tem dado incentivo com bolsas de iniciação científica, mas de forma muito fragmentada, sem uma política da instituição. A ideia de criação da Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação é algo que vejo como urgente urgentíssimo. E é algo que, inclusive, creio que independe do Congresso. A ideia é propor o quanto antes a criação da nova Pró-Reitoria, essa e a da Pró-Reitoria de Ações Afirmativas. A Pró-Reitoria de Pesquisa, para mim, é essencial e que tenha um norte, porque está muito solto, muito restrito aos editais, e a pesquisa vai muito além disso. Qual é o nosso horizonte com a pesquisa, qual é o foco que a UFSB tem, que formas de incentivos planejamos? Por exemplo, estamos aqui numa região do cacau. O Centro de Formação em Ciências Agroflorestais tem que estar focado nisso, tem que ter isso como objeto de estudo por parte do grupo de professores que trabalha em uma instituição que está inserida nesse contexto. A mesma coisa o pessoal do Centro de Formação em Ciências Ambientais: tem que trabalhar pensando em uma série de problemas que temos aqui na região. E a Pró-Reitoria de Pesquisa deverá fazer esse mapeamento, quais são os focos principais da pesquisa, o incentivo institucional, para pensar num direcionamento para algumas áreas fundamentais para a região. Isso é urgente e essa futura Pró-Reitoria precisa começar as atividades se debruçando sobre isso. A ideia é que seja de pesquisa e pós-graduação porque percebemos que a pós-graduação, geralmente, está separada da graduação. O que não implica dizer que um estudante da graduação não vai poder cursar um componente de um Programa de Pós-Graduação. Ele poderia se matricular num componente oferecido na Pós-Graduação, não vejo problema nenhum nisso. Em outros países isso acontece sem problema. Quando cursei meu doutorado, lá nos Estados Unidos, fazia componentes com os discentes de graduação. Penso que a gente tem que trabalhar sem essas barreiras. E, principalmente, se falamos em interdisciplinaridade. Muitas vezes, a pessoa é formada em uma área e precisa de um saber de uma área cuja base não conhece. Então, é necessário cursar um componente do primeiro ano daquela área porque não teve contato, fazendo um curso inicial daquela formação para entender como funciona, para ver como consegue relacionar aquela área com outra. E a Pós-Graduação, em termos da organicidade, está mais próxima da pesquisa. A ideia é que a gente coloque a pós-graduação e a pesquisa no mesmo patamar na nova Pró-Reitoria.
ACS: A senhora pode adiantar se vamos ter outras novas estruturas já nesse início da gestão?
Joana: Além da Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-graduação, tem a Pró-Reitoria de Ações Afirmativas que queremos criar, separada da Prosis. A Prosis segue sendo a Prosis, com o foco voltado para a extensão e a sustentabilidade. A pesquisa ainda tem uma localização, por mais difusa que seja; a extensão nem isso tem. Há projetos de extensão, mas não estão em lugar algum, isso está difuso, hoje, não há um local em que se possa alocar a Política de Extensão da instituição. Estamos pensando já em ter o fomento para a extensão, assim como se faz com a pesquisa e, para isso, é preciso ter o local onde a extensão vai estar focada, onde serão definidas as políticas, as resoluções que regulamentem o trabalho e os projetos de extensão. Também pensamos em transformar a Diretoria de Gestão de Pessoas em uma Pró-Reitoria. A Propa tornou-se muito grande e é o setor que faz a máquina funcionar. A gestão de pessoas ficou meio como um apêndice em meio desse foco todo em obras, infraestrutura, gestão, meio como um peixe fora d’água e com demandas peculiares. Hoje, sem considerar o concurso em andamento, temos cerca de 240 professores, vamos chegar a mais de 300, técnicos também; então, teremos em breve 600, 700 servidores. Isso gera uma série de questões do dia-a-dia dos servidores, que também carece de políticas para o segmento, tema sobre o qual essa Pró-Reitoria precisará se debruçar e atuar.
ACS: A senhora participou, em junho, da III CRES, evento internacional que propiciou trocas de experiências entre reitores de diversos países. Que pontos discutidos no evento a senhora destaca como importantes para a UFSB?
Joana: Acho que casa um pouco com o que falei antes sobre a universidade. Foi muito importante a participação, estavam lá muitos reitores da América Latina e Caribe. Tinha cinco mil pessoas, para você ter ideia. E o foco principal da discussão foi essa forma como a universidade latino-americana e caribenha ainda usa toda a sua estrutura e filosofia de atuação baseada na influência da Europa e dos Estados Unidos. Como a gente pode ter uma universidade latino-americana e caribenha que seja de fato latino-americana e caribenha e que dê conta das demandas desses territórios? Por exemplo, as publicações que valem mais pontos são as que publicam em inglês em um continente no qual o principal idioma é o espanhol e, depois, o português. A valorização, e a gente reforça muito isso, é para publicação em inglês, e a nossa comunidade não lê inglês. Publicamos muito para nossos pares espalhados no mundo. Isso é importante? É, mas precisamos pensar em ter isso também nos eventos internacionais com outros países que sejam da América Latina e do Caribe. É importante que nos voltemos para a nossa comunidade interna. Outro ponto foi sobre a necessidade de pensarmos comunidades que têm riquezas culturais enormes. Os indígenas que habitaram a região e as tradições que ainda se mantêm, subsistem de alguma forma, e nós tratamos como produto turístico, não como uma questão de identidade desses povos que resistem, atribuindo valor cultural, tradição que herdamos, de alguma forma. Esse é um ponto, a interculturalidade, os desafios sociais, o papel da educação superior frente aos desafios atuais. Essa é uma conferência que ocorre a cada dez anos. A primeira foi em Havana, Cuba, a segunda em Cartagena de Índias, Colômbia, a terceira em Córdoba, Argentina, em homenagem aos 100 anos da Reforma de Córdoba. A reforma teve origem em um movimento de estudantes e foi a partir daí que surgiu o conceito de autonomia universitária, da participação de estudantes nos colegiados das universidades, a extensão, isso veio da Reforma de Córdoba. Foi discutido o que mudou de lá para cá, e a gente percebeu que mudou muito pouco, que temos muito a fazer. Houve avanços, mas não foram tão significativos quanto poderiam ter sido. Foi um debate muito interessante exatamente por reafirmar a necessidade de criar essa identidade com a cultura latino-americana. Por exemplo, quando eu falo que a internacionalização que pretendo para nossa universidade deve se aproximar dos povos latino-americanos, e africanos também, por razões óbvias, é porque precisamos mesmo estar mais próximos dessas comunidades. E a grande maioria das pessoas que saem para fazer o doutorado vai para a Europa ou Estados Unidos, eu mesma fui para os Estados Unidos. Ainda não trabalhamos entre nós aqui para pensar essas relações, precisamos nos aproximar mais uns dos outros para descobrir o que cada um está fazendo.
ACS: De certa forma, essa seria outra faceta do conservadorismo acadêmico?
Joana: Sim, nessa linha parece que vale mais um doutorado em Brown, como eu fiz, que na Colômbia ou na Argentina.
ACS: E isso mostra um aspecto já mencionado em alguns estudos de Relações Internacionais que acusam o Brasil de ser um pouco imperialista, de virar as costas para a América Latina.
Joana: Precisamos estreitar mais as relações com essas universidades, pensando exatamente em inclusão, trabalhar mais com esses povos do que com a Europa, para não reproduzirmos a cultura europeia mais e mais, aproximando-nos sempre deles e nos afastando das comunidades daqui da América Latina. A abertura da Conferência foi fantástica, com um grupo da Argentina que trabalha com música autóctone e instrumentos fabricados pelos discentes com base nas tradições indígenas. Foi um evento muito bom para discutir o potencial enorme que temos na América Latina, no aspecto de conclamar para uma aproximação maior, para que a gente possa se articular no sentido de uma identidade cultural e intelectual mais próxima dos nossos ancestrais, que nos deixaram tanto legado.
ACS: A gente pode esperar algumas propostas nesse sentido de aproximação em diversos âmbitos, como mobilidade acadêmica, colaborações na pesquisa?
Joana: Uma coisa que me ocorreu e ainda vamos avaliar é se é possível, em termos de orçamento, estabelecermos bolsas para alguns dos nossos estudantes indígenas passarem um período de estudos em uma universidade indígena na região andina, por exemplo. Seria muito rico em termos de trocas de cultura entre representantes desses povos. Tem algumas coisas que podemos fomentar para aproximar as relações. Já estamos recebendo estudantes da América Latina, devido ao acordo com o Grupo Coimbra, e a ideia é aumentarmos essa participação, trazendo estudantes de fora e enviando os nossos estudantes para outros países.
ACS: Uma questão que se aponta regularmente é a da sobrecarga de trabalho. Nosso modelo tem suas virtudes e recebe também críticas, por vezes direcionadas ao ritmo acelerado do regime quadrimestral. O que a senhora pode adiantar sobre possíveis alternativas para amenizar ou resolver essa questão?
Joana: O regime quadrimestral entra na leitura daquelas coisas que a gente não sabe bem se é assim por não ter sido bem implementado ou se é porque se trata realmente de um regime muito intenso de trabalho. Por exemplo, a UFABC resolveu um pouco essa questão do quadrimestre instituindo um mecanismo que permite ao professor concentrar a carga horária em dois quadrimestres e ficar um quadrimestre livre – não que necessariamente ele vá para um pós-doc ou que se afaste da universidade – para se dedicar à pesquisa e atividades outras que não a sala de aula. Isso foi como a UFABC resolveu esse problema, obviamente respeitando as necessidades de aula e planejando. Isso é possível fazer para acalmar. É realmente um regime bastante intenso porque há um intervalo de apenas quinze dias e já recomeçam as aulas. É uma carga muito forte de trabalho à qual todo mundo fica submetido. E de estresse também. A comunidade acadêmica precisa discutir um pouco essa questão. A ideia é trabalharmos de forma mais organizada, estabelecendo os fluxos de maneira mais tranquila. O grande problema é que chegamos aos quinze dias de recesso para resolvermos todos os problemas do mundo. Isso teria de começar no início do último quadrimestre antes do estudante fazer a migração. Por exemplo, algo que já melhorou neste quadrimestre foi o fato dos alunos não terem aquela coisa da Secad (Secretaria Acadêmica) ficar alucinada para resolver os problemas de matrícula. Tudo foi feito pelo próprio estudante pelo SIGAA; de casa mesmo ele fazia a matrícula sem problemas, o que já ameniza um pouco o estresse, a ânsia. Há uma série de questões de organização. Particularmente, defendo que, primeiro, a gente trabalhe a organização para ver se isso diminui o estresse causado pela intensidade do regime quadrimestral antes de pensar em acabar com ele. Ainda aposto em nossa capacidade de minimizar. Mas é algo a ser avaliado, a comunidade vai se debruçar sobre isso e aí a gente vai conversar para ver se é possível que ele se mantenha. Eu defendo a manutenção do regime quadrimestral, mas sempre digo que tenho minhas convicções sem cláusulas pétreas. Não tenho nenhum problema se a comunidade decidir que a gente deve ter um regime semestral ao invés do regime quadrimestral.
ACS: Vários dos nossos colegas servidores, e claro, também estudantes, se envolvem com o debate de políticas públicas, ligam-se a movimentos sociais, atuam justamente para exercer o controle social, algo muito importante para a participação democrática. Como a senhora vê essa atuação, vai haver uma institucionalização dessa vontade de participar?
Joana: Sim, há uma série de instituições, organizações, que pedem indicação de nomes para que a universidade participe desses espaços de diálogo e decisão. Precisamos institucionalizar isso, essa busca de pessoas interessadas em participar. Até porque, quando chega aqui o Conselho Municipal de Cultura, por exemplo, querendo alguém para representar a universidade naquele espaço, a gente fica pensando em quais nomes indicar. São possibilidades reais de interferir nas políticas da cidade. A universidade pode ter alguém que goste daquele tema e que seja capaz de discutir o assunto de forma qualificada, isso é muito bom para o conselho, para a universidade e para o município. Isso é algo que precisamos trabalhar para ter esses interesses mapeados, quais servidores querem participar e em quais temas. Às vezes, você pode ter duas ou três pessoas que se interessam e que estão aptas para debater o assunto e a gente não sabe quem se interessa por qual tema. Em termos de instituição, nós temos o Guia de Fontes, que vocês [da ACS] organizam, que talvez pudesse ajudar nessa indicação dos interesses de cada um nessas participações.
ACS: Recentemente, o Consuni aprovou algumas iniciativas da comunidade interna, motivando avanços nas Políticas de Ações Afirmativas, como a questão das cotas para o ingresso no 2º ciclo, por exemplo. O que isso representa para a universidade, em sua opinião?
Joana: Primeiro, houve a mudança no percentual do segundo ciclo. Tínhamos 55% de cotas no primeiro ciclo e de 75% de cotas no segundo. Na época que o Consuni discutiu o tema, inclusive, fui tachada de ser contra as cotas exatamente porque disse que precisávamos ter coerência. Se temos 55% de cotas na entrada, o que fazemos com o excedente que não cabe nas cotas de 75%, se havia 55% de cotas na entrada? Mas resolvemos isso fazendo também a entrada ter 75% via Sisu. Agora está coerente, pois mantém o percentual para os alunos nas duas entradas. Essas são políticas que, para mim, reforçam a necessidade da universidade pública cumprir o papel de atender o público que precisa dela, que é a população mais carente, mais vulnerável. Aqui, temos ainda, além da vulnerabilidade econômica, pessoas e comunidades que são mais vulneráveis, como os indígenas, os quilombolas, pessoas negras e pardas, que têm grande dificuldade de acessar a universidade. Você vê muitas pessoas negras estudando à noite nas universidades particulares que precisam trabalhar o dia inteiro e pagar o estudo porque não conseguem entrar na universidade pública; ainda há dificuldade de acesso a essas instituições. Isso tem melhorado com as políticas de cotas, mas há muito a fazer. Por exemplo, a lei determina que seja no mínimo 50% de cotas para alunos da escola pública, mas, aqui, temos cerca de 80% que se formam no Ensino Médio de escolas públicas. Estabelecemos um percentual de 50% para oriundos da escola pública. Acho que precisamos avançar nisso. Já avançamos, uma cota de 75% se aproxima muito hoje do total de alunos que se forma no Ensino Médio de escola pública. Isso tem melhorado também com a inclusão de pessoas trans, que sempre foram muito marginalizadas pela sociedade. Há a questão dos próprios Colégios Universitários, que trazem estudantes do território a partir de uma seleção localizada, mais regional. Estamos agora nessa discussão sobre comissões de verificação de autodeclaração. São esforços para melhorar a fim de garantir que as políticas que estão sendo implementadas realmente funcionem.
ACS: Como temos uma entrada anual de calouros, nem sempre esses novos alunos têm a perspectiva histórica da universidade, e essa distância aumenta com o passar do tempo. Os discentes que ingressarem em 2024 não terão a pálida ideia de como foi ingressar em 2014. Que UFSB os calouros estão encontrando agora e no que ela difere da UFSB de três, quatro anos atrás?
Joana: Acho que a gente já tem uma diferença entre quem ingressou lá atrás e quem entrou em 2018. O estudante que ingressou em 2014 teve uma carga de incertezas muito, muito maior que a desses estudantes que começam agora. O fato da gente ter um início do segundo ciclo marcou muito essa perspectiva de trajetória dentro da instituição. O discente que entrou em 2014 chegou aqui para fazer um bacharelado que ele não sabia direito o que era e não enxergava perspectiva, ‘eu quero fazer engenharia, mas não sei qual o caminho para chegar lá’. O calouro atual já tem isso definido, já tem essa questão dada. Para mim isso já é uma mudança muito importante, pois ele já vislumbra a trajetória para chegar onde quer. E vamos trabalhar para que fiquem cada vez mais evidentes as possibilidades para os estudantes, dar essa segurança de andar pela instituição de uma forma mais tranquila, conhecendo os percalços. Porque a grande questão que está colocada hoje é a seguinte: tomemos a Medicina como exemplo, que é o grande gargalo atual, devido à quantidade de alunos que querem ingressar nesse curso. O discente sabe que tem uma dificuldade na frente, mas como não tinha isso claro sobre como seria o momento de passagem, o processo se tornou muito traumático. Se o aluno tem certeza sobre qual é a trajetória a seguir, sabe que vai ter um momento de disputa adiante, mas já está ciente sobre como se conduzir. Os estudantes de 2014 não tiveram nada disso, ficaram totalmente soltos. Quando começamos a universidade, em 2013, no início da discussão do projeto, quando o nosso primeiro pró-reitor da gestão acadêmica saiu, uma das coisas que ele colocou foi exatamente isso: a necessidade de termos os projetos pedagógicos dos cursos que iríamos implantar, para que o aluno já soubesse, porque isso ia dar o norte. E ele saiu por conta disso, por não concordar com o fato de começarmos sem as definições necessárias. É preciso dar ao estudante segurança. Com isso, se diminui muito o estresse e a angústia.
ACS: Em relação às instâncias da comunidade externa, os municípios, associações representativas, as empresas que têm representação no Conselho Estratégico, como a senhora avalia a relação da universidade com o Conselho e que perspectivas vê para o começo da gestão?
Joana: Tivemos uma reunião do Conselho em maio, na qual expus a necessidade de ser de fato um conselho consultivo da instituição, para que possamos trabalhar de forma a não apenas trazer as pessoas para dentro da universidade, sentar em uma reunião e apresentar uma série de demandas. Queremos que o Conselho se aproprie da universidade no sentido de cuidar de um bem público que nos pertence a todos, e que, portanto, tenhamos um diálogo contínuo, forte, em torno das questões que dizem respeito ao território. A forma como construímos esse Conselho propiciou que ficasse centrado em uma vertente muito assistencialista da instituição, no sentido de que a expectativa é que a universidade vai trazer algo para eles quando, na verdade, a reciprocidade, a troca é que deve ser valorizada. Além disso, o Conselho Estratégico Social tem que ter a perspectiva de que ele tem na universidade um bem público que pertence à comunidade e, por isso, ele também tem obrigações para com essa universidade, na defesa, na sustentação, na forma de funcionamento desta instituição, mas em uma dimensão que não seja tão assistencialista. Nesse sentido, precisamos estabelecer uma relação mais próxima e fortalecida com o Conselho Estratégico Social de modo que se tenha de fato um Conselho que discuta a dimensão do território incluindo a universidade em meio a todos os outros atores, sendo a universidade mais um, não o maior, mas um elo a mais da comunidade territorial. E que todos assumam obrigações, deveres e direitos, obviamente com o devido resguardo das especificidades de sua atuação, todos implicados em um processo de integração.
ACS: Agradeço pela atenção, professora.
Joana: Obrigado a você.
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