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Docente da UFSB é eleita presidente da Associação Brasileira de Críticos de Arte

  • Publicado: Segunda, 27 de Janeiro de 2025, 11h24
  • Última atualização em Segunda, 27 de Janeiro de 2025, 11h25
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Ale foto1 CopiaA professora Alessandra Simões Paiva, da Licenciatura Interdisciplinar em Artes e suas Tecnologias, no Campus Jorge Amado, passou a presidir a diretoria da Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA) para o mandato 2025-2027. A escolha da nova equipe diretiva da ABCA ocorreu em assembleia realizada em 22 de novembro de 2024 e a posse aconteceu no primeiro dia de 2025. 

A professora Alessandra afirma que a escolha para a presidência da ABCA reflete o seu compromisso com a promoção da inclusão e da pluralidade no campo das artes visuais no Brasil. Nos últimos anos, a pesquisadora tem ajudado a reavivar o legado político da ABCA que, em seus primórdios nos anos 1950, teve figuras emblemáticas como Mario Pedrosa e Sergio Milliet à frente de sua fundação, sob os auspícios da então recém-criada Associação Internacional de Críticos de Arte (AICA), no cenário do pós-guerra e com apoio da UNESCO. Atualmente, a ABCA é a seção nacional da AICA, que tem sede em Paris e possui outras inúmeras seções internacionais, reunindo mais de 6 mil associados.

Ela conta que têm buscado integrar seu trabalho acadêmico a uma prática contínua com impactos diretos na sociedade, atuando na Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA), em um esforço para alinhar a crítica de arte a práticas que desafiem hierarquias e favoreçam uma maior pluralidade no campo artístico. O momento disparador para este trabalho de retomada política da ABCA se deu com a Jornada ABCA, congresso anual da entidade, que em 2020 foi organizado e presidido por Alessandra com apoio do edital PAEP-CAPES e ocorrido na UFSB. Geralmente realizado em São Paulo, pela primeira vez o evento teve sede em uma universidade no nordeste do país, no formato online durante a pandemia de Covid-19. O evento reuniu grandes nomes do movimento decolonial nas artes brasileiras que assinaram artigos no e-book produzido na ocasião.

Conforme a docente, o congresso foi um marco para o meio artístico e para o modo de operar da ABCA. Após o evento, a associação passou a contar com a Comissão da Pluralidade Crítica, criada e coordenada por Alessandra. "A iniciativa fortaleceu a luta por uma crítica mais inclusiva, democrática e plural, buscando estimular as vozes de grupos historicamente marginalizados que enfrentam as distorções e assimetrias presentes nas instituições artísticas do país. Os trabalhos da comissão resultaram em ações afirmativas dentro da entidade (algo único no campo da crítica da arte), como convites sistemáticos a pessoas negras e indígenas para se tornarem membros da associação e a criação de novas categorias para o tradicional prêmio anual da ABCA", conta a docente.

As novas categorias foram: 1) Prêmio Emanoel Araújo; para coleção, acervo, conservação, documentação histórica; 2) Prêmio Yeda Maria; para iniciativas na área de educação nas artes; e 3) Prêmio Gilda de Mello e Souza, para críticos/as em início de carreira. A partir de intensos estudos e discussões, a linha conceitual delineada pela Comissão para os novos prêmios passou pela ideia de que não deveriam ser criadas categorias que gerassem exceções identitárias (por exemplo, dedicadas especificamente à arte negra, arte indígena, LGBTQIA+). A proposta seria, sim, enfatizar a pluralidade com ações de reparação e representatividade, porém sem promover sectarismos que comumente geram críticas ao movimento decolonial. Ao final, gerou-se o consenso de que seria possível criar categorias com nomes de personalidades pertencentes a grupos minorizados (até então, o prêmio contava majoritariamente com nomes masculinos brancos), porém sem atrelar o nome diretamente ao conteúdo da categoria (por exemplo: Prêmio Emanoel Araújo, para artistas negros).

Alessandra iniciou sua carreira como crítica de arte na imprensa brasileira há 25 anos, passando por jornais, sites e revistas especializadas, nacionais e internacionais. Atualmente, ainda colabora com a revista ArtNexus, principal veículo especializado em artes visuais latino-americanas, com textos publicados em espanhol e inglês. Sua trajetória na escrita contabiliza centenas de textos, fortuna crítica que já lhe rendeu prêmios e convites para colaborações editoriais diversas. Destaca-se o prêmio Jovem Crítica (2012), da Associação Internacional de Críticos de Arte (AICA). Alessandra é mãe das trigêmeas Luísa, Carolina e Isabela, que nasceram após sete meses de gestação natural, durante seu mestrado na USP.

 

Livro aborda a decolonialidade no discurso acadêmico sobre artes

A docente teve o seu livro A Virada Decolonial na Arte Brasileira (Editora Mireveja, 2022) premiado pela ABCA em 2023 por sua contribuição pioneira aos debates étnico-raciais e de gênero na arte e na cultura. A obra foi contemplada pelo Edital PROPPG/UFSB nº 7/2022. Ao observar o uso recorrente dos termos decolonialidade, decolonial e decolonialismo no ambiente acadêmico, no circuito artístico e nas redes sociais, Alessandra percebeu a urgência de organizar bases científicas para essas terminologias ainda inexistentes na língua portuguesa. Em sua pesquisa inicial, a autora reconstituiu a gênese desses conceitos nas ciências sociais e analisou seus reflexos nas artes. Combinando rigor científico e abordagem didática, o livro dialoga tanto com estudantes de graduação e pós-graduação quanto com agentes do sistema da arte e leitores em geral, cumprindo sua missão de fortalecer a difusão científica no campo das artes. Um dos pontos motivadores para a escrita do livro foi sua atuação junto ao mestrado profissional em Ensino e Relações Étnico-Raciais (PPGER/UFSB), quando a professora percebeu a falta de bibliografia especializada para abordar as questões decoloniais nos componentes curriculares sobre arte e educação.

livro fechadoCom a publicação do livro, a professora Alessandra passou a receber convites nacionais e internacionais para palestrar em congressos, bienais, museus e universidades, além de participar de entrevistas em podcasts e revistas especializadas, abordando temas como lugar de fala, representatividade, apropriação cultural e artivismo. A obra fomentou convites para integrar bancas de pós-graduação stricto sensu no país, o que indica a adoção de seu livro como referencial teórico em programas de pós-graduação, como ocorreu em processo seletivo na pós-graduação da Universidade Estadual de Santa Catarina. Destaca-se também sua participação na formação de público em ações de alcance educativo, como na aula aberta da 4ª Bienal Black, que adotou o livro em sua última residência artística, em 2024; e a oficina formadora para a equipe da 1ª Semana de Arte de Cataguases, em 2024.

 

Interações e redes de pesquisa

A pesquisa da professora Alessandra também avançou com o pós-doutorado na Universidade de Leeds, Inglaterra, realizada com bolsa do CNPq (PDE/processo 200835/2022-0), resultando no fortalecimento de sua rede internacional de pesquisa, por meio de sua admissão à Rede Europeia de Brasilianistas de Análise Cultural (REBRAC) e com a produção de artigos acadêmicos em inglês e espanhol. A professora também foi contemplada com suporte financeiro da entidade The Association of Hispanists of Great Britain & Ireland (AHGBI) para apresentação do trabalho Reapropriar para reparar: o centenário da Semana de 22 sob a ótica decolonial, no 5º Congresso da REBRAC. Alessandra visitou a Universidade de Essex como parte de sua pesquisa sobre o acervo da Essex Collection of art from Latin America (ESCALA), considerada a única coleção de arte latino-americana pública na Inglaterra. A pesquisa resultou em dois artigos publicados, em inglês e português. Ainda em Essex, a docente proferiu a aula A virada decolonial na arte brasileira: ecologia e paisagem, na pós-graduação Colecionando Arte da América Latina.

Alessandra estreitou os laços com a Universidade de Leeds por meio de sua participação em projetos liderados por sua supervisora, Thea Pitman, da área de Estudos Latino-americanos, da School of Languages, Cultures and Societies. Ambas as pesquisadoras já haviam realizados ações de pesquisa e extensão conjuntamente no sul da Bahia, fortalecendo a internacionalização da UFSB, e em parceria com a ONG Thydewá, com trabalhos que relacionam tecnologia e arte indígena na América Latina. Entre os projetos, destacam-se o Cocriações Artísticas, Resistências e Ancestralidades: Residência Artística Online (CARA), realizado com artistas indígenas e não-indígenas e estudantes da UFSB em 2020; e Arte Eletrônica Indígena, série de residências em aldeias do nordeste, que ganhou exposição no Campus Jorge Amado da UFSB e no Museu de Arte Moderna da Bahia, em Salvador, a partir de 2018.

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