Estudantes do CSC mobilizam a comunidade acadêmica, o poder público e empresa para propor melhorias para o transporte coletivo
Na manhã de ontem (26), a professora Joana Angélica Guimarães da Luz, reitora da Universidade Federal do Sul da Bahia, participou de audiência, na Câmara Municipal de Porto Seguro, com estudantes do Campus Sosígenes Costa (CSC), para reivindicação de melhorias no transporte público do município. As demandas têm sido apresentadas pelas representações do movimento estudantil com recorrência à Prefeitura.
Lia Valente, discente do CSC e membro da comissão de transporte, conta que “essa questão já era causa sensível para a comunidade acadêmica desde 2015 porque estamos próximos à agrovila, zona rural de Porto Seguro, e o fluxo de transporte coletivo público é muito ruim, os horários não contemplam os horários de aula. Portanto, sempre estivemos à frente dessa luta, nós, estudantes de forma geral.” Ela enfatiza que “uma das primeiras dificuldades que enfrentamos foi a resistência, tanto da Prefeitura quanto da empresa de transporte, em ofertar uma linha que possibilitasse continuarmos estudando onde estamos, já que o Campus é distante do centro.”
Além de servidores(as) docentes e técnico-administrativos(as), representações discentes e estudantes comprometidos(as) com a pauta, estiveram presentes à reunião para debate e negociação a Prefeita de Porto Seguro, Cláudia Oliveira, o presidente da Câmara Municipal, Evaí Fonseca, a Secretária Municipal de Educação, Janis Sousa, o Procurador Geral do Município, Hélio de Lima, o representante da Viação Porto Seguro, a reitora da Universidade Federal do Sul da Bahia, professora Joana Guimarães, e estudantes membros da comissão de transporte da UFSB, composta por iniciativa coletiva do movimento estudantil.
Após a reunião, em entrevista, a Reitora da UFSB, professora Joana Guimarães, destacou o protagonismo dos(as) discentes na luta pela melhoria do transporte público, ressaltando a capacidade de organização política dos(as) estudantes, que discutem o tema de modo qualificado. A Reitora disse ainda que “nosso papel na reunião foi o de dar o devido suporte institucional e transmitir para as outras autoridades que a UFSB reitera as pautas dos(as) estudantes, por considerar legítimas as reivindicações sobre a importância do transporte público coletivo, a possibilidade de passe livre e o diálogo com as comunidades do entorno do Campus.”
Lia Valente comentou que o movimento estudantil deliberou por encaminhar o pedido de apoio para os(as) decanos(as) e para a reitora “porque isso faz muita diferença numa reivindicação dessas. A presença de Joana hoje foi muito importante”.
Radharâni Cabrera Teixeira de Arruda, estudante do Bacharelado Interdisciplinar em Humanidades e membro da Comissão de Transporte UFSB-CSC, relatou que esteve presente em diversas tentativas de diálogo com a Prefeitura e a Câmara de Vereadores. “Participamos do Plano Plurianual do município de Porto Seguro PPA 2018/2021, levando as demandas discentes pelo transporte público, sinalização do entorno da universidade sobre o trânsito de pessoas e construção de ponto de ônibus coberto. Participamos também da construção do Plano Diretor Municipal, quando levamos novamente tais demandas.” Ela conta que “sempre que procurávamos alguma instância, havia o empurra-empurra de responsabilidades e ficávamos sem resposta concreta.”
Como resultado da reunião de hoje, foi firmado um acordo entre as representações presentes, que se comprometeram com a criação, em caráter de urgência, de um grupo de trabalho formado por representantes da sociedade civil, dos poderes executivo e legislativo, empresários do ramo de transporte urbano, comunidade acadêmica da UFSB e demais interessados(as) para discussão e implantação do passe livre estudantil e sistema de integração entre as linhas de transporte no município de Porto Seguro.
Além disso, o documento menciona a criação de uma linha de transporte para o Campus Sosígenes Costa “com rota e horários estipulados e acordados com as necessidades desta comunidade universitária, conforme estudo conjunto previamente realizado.”
Outra questão que entrou no Termo foi a “discussão da ampliação da quantidade de passes estudantis, bem como a redução do valor da emissão da segunda via da carteira estudantil no município.”
Como medida de urgência, o documento prevê a “possibilidade de viabilização, por parte da Prefeitura, quanto à garantia de transporte dos discentes no turno vespertino a partir do dia 27/06/2018 até a conclusão da discussão e implementação do passe livre estudantil, integração e linha com itinerário UFSB.”
Ao final da audiência, a Secretária Municipal de Educação de Porto Seguro convidou o movimento estudantil para uma reunião hoje, 27.
Histórico
Em nota pública à comunidade acadêmica divulgada no dia 19 de junho, a Comissão de Mobilização Estudantil e o Diretório Acadêmico Tereza de Benguela expuseram a pauta reivindicatória, afirmando que, “para além da falta de ônibus de linha específica até a Universidade, a única rota possível que faz o percurso não abrange os bairros e a orla do município. Isso implica na necessidade de uso de duas passagens de ônibus, encarecendo o trajeto e tornando-o ainda maior.” O valor da passagem é de R$ 3,25.
Os(As) autores(as) do documento explicaram também “que os alunos organizaram-se de modo autônomo com o objetivo de fazer cumprir o direito constitucional de ir e vir, mediante ofícios direcionados à Prefeitura Municipal de Porto Seguro, Empresa Viação Cidade de Porto Seguro e Câmara Municipal de Vereadores, contudo, todas as referidas tentativas de diálogo foram sem nenhum sucesso.”
O texto apresentou um histórico do processo de luta em relação ao tema com a retomada de ações realizadas pelo corpo discente nos anos anteriores e enfatizando a situação atual.
A discente do Bacharelado Interdisciplinar em Humanidades do CSC Gilene Pinheiro contou, em entrevista, que, em 2016, com a primeira manifestação de estudantes, a Prefeitura cedeu um ônibus pela manhã (para quem estuda à tarde) e outro à tarde (para estudantes do noturno), com saída do Centro rumo ao Campus. No ano seguinte, cedeu outro veículo à noite, para atender a demanda dos bairros. Em 2018, a entrada de estudantes novos(as) ocorreu no turno vespertino, provocando aumento da demanda.
Os(as) estudantes explicam, na nota, que, “Com a entrada de 2018.2, o ônibus do turno vespertino passou a ser insuficiente quando observada a quantidade de estudantes. Chegamos a ter 155 alunos sendo transportados pelo ônibus escolar, colocando a segurança de todos em risco e onerando a atividade do motorista.”
Ainda conforme o texto, “o setor da prefeitura responsável pelo transporte nos informou que não seria possível destinar mais um ônibus para o turno da tarde e que portanto deveríamos limitar o uso do escolar gratuito somente aos veteranos, e os calouros deveriam utilizar a linha paga (Agrovila ou Pindorama).”
Em entrevista, a estudante Lia Valente salientou que os ônibus cedidos são veículos escolares, que passaram a ficar lotados com a entrada de ingressantes, principalmente o único que trafega no período vespertino. Diante dos perigos apresentados pelo excesso de passageiros(as) no ônibus da tarde, a Prefeitura solicitou que os(as) discentes encaminhassem uma lista com a identificação de estudantes, o que excluiria muitas pessoas que precisam do transporte gratuito.
A nota emitida pelo coletivo realçou a insuficiência do serviço prestado, relatando que o ônibus “não tem horário regular de funcionamento e coloca a vida de seus usuários em risco, pois não entra no perímetro da UFSB, fazendo com que os estudantes desçam às margens da BR-367.”
O documento expôs a pauta completa de reivindicações, com propostas de encaminhamentos elencados em Assembleia, que votou pela paralisação das atividades no CSC, o que ocorreu nos dias 20 e 21 de junho, conforme divulgado por diversos(as) discentes em redes sociais. Além da paralisação, os(as) estudantes realizaram três atos na semana passada: uma vigília, um ato na Câmara de Vereadores e uma manifestação de rua.
Avaliação e Futuro
O Pró-Reitor de Sustentabilidade e Integração Social, Sandro Ferreira, que acompanhou a Reitora na audiência, ressaltou o protagonismo dos(as) estudantes e “o modo inteligente como conduziram a mobilização até chegar no Termo de Compromisso firmado na manhã de hoje”.
O professor enfatizou “o caráter amplo e popular do movimento estudantil, já que o foco das reivindicações não está apenas na luta por melhorias para a comunidade acadêmica, mas pensa também nas comunidades rurais de Porto Seguro e em estudantes de outros segmentos.”
Radharâni Arruda disse que ficou “muito contente com a participação discente, dos professores, de Joana, reitora, de TA’s. A participação de todos, instituição e comunidade acadêmica, foi fundamental para obter o êxito hoje. Acredito que a reunião foi muito proveitosa e atendeu boa parte daquilo que tínhamos como pauta no início das manifestações.”
A estudante afirma que, antes, “o que tínhamos de resposta é que eles não tinham nenhuma responsabilidade com a gente, e hoje temos esse compromisso firmado no documento assinado como resultado de uma extensa reunião.” E completa: “O que temos que fazer agora é continuar a mobilização para que haja, de fato, o cumprimento das pautas estabelecidas.”
Fotos: Gilene Pinheiro
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