PPGER realiza aula inaugural no campus Jorge Amado
A performer, poeta, produtora cultural, militante, professora da Universidade do Estado da Bahia (UNEB) e doutoranda em Estudos Étnicos e Africanos pelo Centro de Estudos Afro-Orientais (CEAO) da Universidade Federal da Bahia (UFBA) Daniela Galdino Nascimento conduziu a aula inaugural do Programa de Pós-Graduação em Ensino e Relações Étnico-Raciais (PPGER) do Campus Jorge Amado (CJA), realizada na noite de ontem (4/6), às 19 horas, no auditório do Campus. O tema foi “O terceiro espaço na literatura brasileira: vozes negras, outras dinâmicas editoriais e suas repercussões na formação de leitores.”
O evento iniciou com a apresentação do PPGER pela professora Célia Regina da Silva, coordenadora do curso no Campus Jorge Amado. Foi apresentado o corpo docente do PPGER-CJA a estudantes da segunda turma, recém-formada em processo seletivo. A professora Célia deu as boas-vindas às novatas e aos novatos e passou a palavra ao professor Rafael Guimarães, também membro do PPGER/CJA, que apresentou o histórico do Programa, bem como a grade curricular.
Rafael Guimarães confirmou a alegria pelo resultado do último processo seletivo, realizado entre os meses de abril e maio de 2018, e disse ainda que “O PPGER vai se consolidando num panorama conturbado nacionalmente e, por isso, pensar em todas as afirmatividades que os projetos aprovados trazem é muito importante.” O professor foi enfático ao afirmar que o corpo docente “deposita esperança nos trabalhos que vão sair deste Programa, pois vão impactar muito no Sul da Bahia.”
Daniela Galdino iniciou sua apresentação com as palavras de ordem Marielle Vive! Lula Livre! e Fora Temer! A professora salientou a importância do PPGER, por “agregar a militância à construção de saberes e conhecimentos”. Ela explicou que o objetivo de seu trabalho tem sido “encontrar formas dissidentes de sobrevivência”, o que contextualizou de modo crítico ao referir-se ao histórico da região de Ilhéus e Itabuna a partir do ensaio Sul da Bahia - chão de cacau, do escritor baiano Adonias Filho.
A convidada iniciou a aula inaugural questionando o próprio lugar de fala e ressaltando a importância das interseccionalidades no processo de construção com e não pelas pessoas negras na luta contra o racismo. Ela propôs, como guias para sua fala, as seguintes “provocações”: “Quem tem o direito de ler e de escrever a palavra literária?” Para destacar o argumento de que a criação literária é um espaço transgressor, de possibilidades de contradiscursos, Daniela Galdino fez referência ao livro Diário de Bitita, de Maria Carolina de Jesus. Depois, como exemplos da permanência da interdição às vozes negras, leu trechos de obras dos escritores negros brasileiros Lima Barreto e Conceição Evaristo, localizando a repetição das formas de cerceamento e instigou a plateia com a pergunta: “como, um século depois da invisibilidade notada por Lima Barreto, estamos discutindo as mesmas questões?”.
A professora prosseguiu com a abordagem teórica da questão do terceiro espaço e também mencionou fatos recentes ligados a tentativas de silenciamento e invisibilização de vozes negras contemporâneas da literatura brasileira pela censura, a exemplo de Nilma Lima Gomes e Kiusam de Oliveira.
Daniela citou ainda o trabalho das poetas negras Odailta Alves da Silva (PE) e Aidil Araújo Lima (BA), demonstrando, pela leitura de poemas, o deslocamento que promovem no sentido de não se manifestarem como objeto, mas como sujeitos que assumem a própria voz, “implodindo o espaço enunciativo”. Sobre o caso específico da escritora baiana do Recôncavo Aidil Lima, a palestrante questionou: “Por que uma escritora negra que escreve desde os anos 1980 só publicou o primeiro livro em 2017?” Ela complementou dizendo que o intervalo na publicação entre uma obra e outra é muito maior entre escritoras negras, acentuando a atenção a ser dispensada à interseccionalidade entre gênero e raça no cenário editorial brasileiro.
Para finalizar, após responder a perguntas feitas pela plateia, Daniela Galdino apresentou o trabalho da Editora Organismo, construída por escritoras e escritores do bairro da Liberdade, de Salvador, e também experiências e produções de coletivos e artistas da Bahia, pontuando a importância de se considerar “o espaço das redes sociais para a divulgação do trabalho de escritoras, escritores e poetas negras e negros.”
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