Estudante do Bacharelado em Artes, no CJA, ganha destaque no circuito nacional
Ser reconhecido no competitivo mercado de artes visuais no Brasil é algo bastante difícil, ainda mais para quem está longe do eixo Rio-São Paulo. Entretanto, o artista Caio Aguiar, estudante do Bacharelado Interdisciplinar em Artes, no Campus Jorge Amado, provou que isto é possível. A partir desta quinta, dia 02, sua obra poderá ser vista na exposição coletiva Dialetos do Firmamento, na Anita Schwartz Galeria de Arte, uma das mais importantes galerias do circuito carioca. Seus trabalhos serão exibidos ao lado de nomes reconhecidos e bastantes experientes na arte brasileira, como Ivan Grilo, Jeane Terra, Rochelle Costi, Thiago Costa e Zé Tepedino.
Conhecido pelo nome artístico Bonikta, Caio está na exposição com as obras “Kurumins do Rio” (2023) e “Ygarapé das Bestas” (2023), cada uma medindo 45 x 60 cm. Os desenhos digitais sobre fotografia sintetizam a poética que o artista vem desenvolvendo há certo tempo, inclusive, com os aportes experimentais e conceituais apreendidos durante o Componente Curricular Ateliê Arte e Memória, ministrado pela professora Alessandra Simões. “As pesquisas me ajudaram a trazer essas memórias que considero vivas, que vêm da minha conexão com a água”, conta Caio. Nascido em 1996, em Ourém, no Pará, o artista apresenta em sua obra um universo encantado inspirado no imaginário ribeirinho amazônico e nas vivências pessoais entre o interior e a cidade, entre a rua e a floresta. “Bonikta é bicho que vira gente e gente que vira bicho”, conta o artista, que se dedica a processos de criações em diversas linguagens e tecnologias, como grafite, lambe-lambe, ilustrações, pinturas, fotografias, vídeos, animações, tatuagens, máscaras e desenhos digitais.
No ano passado, Caio também foi convidado para participar do São Paulo Fashion Week (edição 54), o maior evento de moda brasileiro. Ele compôs, com outros 23 artistas, um ousado projeto de arte urbana com curadoria de Carollina Lauriano, que tinha como objetivo ressignificar territórios e redesenhar novas vocações na cidade. O projeto abordou temáticas como corpo, identidade e território. Além dos murais, a curadoria artística contou com instalações, pinturas e lambe-lambes. Bonikta criou o mural intilado “Olho d'água", com mais de 200m2, na viela de acesso ao SP Week, no bairro da Mooca, fazendo parte do Museu de Arte de Rua de São Paulo (MAR), que reúne um gigantesco circuito de arte urbana em diversos bairros na capital paulistana. Inspirado nas águas que brotam do interior da terra, como os igarapés e minas d'água, o mural também apresenta influência de grafismos marajoara e mitologias da Amazônia para representar a água como fonte de vida e abundância para o povo ribeirinho. “Em um local seco como São Paulo, representar a água é algo muito importante, é uma forma de mudar o espaço pormeio da arte”, afirma Caio.
“Bonikta apresenta traços bastante marcantes. Seus personagens despertam atenção por seus formatos curiosos, suas cores vívidas e cabeças meticulosamente geométricas, com três olhos. Seu rosto é reproduzido em formas corporais diversas, sejam elas humanas, de outros animais ou objetos. Esta transmutação de um mesmo rosto em vários corpos traz um tom de ironia surreal que prende a atenção do espectador”, explica a professora Alessandra Simões, especialista no campo das artes visuais. Ela lembra que, em 2019, quando conheceu Caio, na época calouro no componente da formação geral, Campo das Artes, reconheceu imediadamente seu talento. “Durante as aulas, ele fazia desenhos maravilhosos a mão, com contornos bem delimitados, cores chamativas. E claro, a simpática feição de Bonikta”.
Neste CC, a presença do artista foi fundamental, pois a turma resolveu fazer uma intervenção urbana na cidade de Itabuna. “Criamos o Kabeça de Bagre, um personagem meio humano, meio bagre, que contou com o desenho estiloso e bem humorado de Caio”. A turma criou lambes, cartazes e stickers, que foram fixados em diversos pontos da cidade durante uma performance em que usavam instrumentos musicais, bicicletas e máscaras. “Nossa inspiração surgiu da triste constatação de ver os peixes que estavam buscando oxigênio com as cabeças para fora da água, no poluído rio Itabuna”, explica Alessandra. A turma também conversou com pessoas que frequentam a beira rio, que atestaram o quanto o rio vem sendo destruído ao longo das últimas décadas. O trabalho rendeu um pequeno documentário que foi apresentado em eventos na UFSB. “Caio está próximo de se formar e já deixou sua marca aqui no sul da Bahia. Agora, estamos felizes por vê-lo alçar novos vôos. Que vá cada vez mais longe, espalhando pelo mundo a beleza e a força da cultura amazônica”, comemora a professora.
Texto e fotos: PROEX
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