Coleta Seletiva Solidária na UFSB: o que estamos fazendo?
Selecionar o próprio lixo, um ato simples, tem mais repercussões que as evidentemente ambientais. Há um compromisso ético e social na atitude consciente em relação ao consumo, descarte e destinação do próprio lixo. Quando direcionamos nossos resíduos para o "Lixão", o que estamos de fato fazendo? Livrando-nos de algo sujo, inútil, que queremos longe? Será que tudo é realmente "lixo"?
Se perguntarmos a um catador ou outro trabalhador do mercado de resíduos, ele claramente nos dirá, "não lido com lixo, minha Senhora, trabalho com material reciclável." Ao direcionar nossos resíduos para o "Lixão", estamos enviando materiais de valor monetário e, consequentemente, atraindo pessoas mais vulneráveis para este lugar. Influenciamos, mesmo que indiretamente e sem ciência, a vida das pessoas. O hábito de separar o "lixo" no dia-a-dia faz a diferença em nosso entorno, na qualidade da água, do solo, do ar e até na estética das cidades onde vivemos, e o mais importante, na parte que nos cabe na diminuição da exclusão e desigualdade social. No entanto, fortalecer catadores e suas instituições não é tão simples. Nos municípios que fazem parte do território de abrangência da UFSB, os catadores não são organizados em instituições ou estas estão fragilizadas por falta de incentivo dos poderes públicos e apoio da sociedade.
A UFSB, há alguns anos, tornou-se Ponto de Entrega Voluntária (PEV) como estratégia para lidar com os próprios resíduos e os doados pela comunidade interna e externa, e tem direcionado os secos recicláveis, a saber, papel, plástico e metal para catadores e outros integrantes do mercado local, os quais denominamos parceiros (detalhes no site: http://bit.ly/2JkkD9i). O Campus Jorge Amado (CJA), a partir de abril, destina os resíduos secos coletados para um recém-criado grupo de catadores instalados no bairro Nova Ferradas, cujos membros saíram do "Lixão" de Itabuna. Até o momento, foram doados 740 kg destes resíduos ao grupo que pretende, no futuro, se tornar uma cooperativa. Desde quando começou a mensurar, do final de 2017 até o momento, o CJA já direcionou quase sete toneladas para reciclagem.
Lixão de Itabuna
Você sabe que Itabuna tem um "Lixão"? E que está instalado muito perto da vida urbana? O "Lixão" de Itabuna fica no bairro Nossa Sra das Graças, apenas a 3 km do novo Fórum Ruy Barbosa e da Maternidade Ester Gomes.
E o que é um Lixão mesmo? Tecnicamente denominados de vazadouros, são locais nos quais ocorre arremesso de lixo no solo, com limitada ou mais comumente nenhuma medida de proteção ao meio ambiente. Os resíduos são expostos a chuva, tornando-se criatórios de vetores de doenças. Fazem parte da paisagem, multidões de animais superdesenvolvidos, como urubus, moscas e roedores. No "Lixão" de Itabuna, além destas figuras repetidas, também encontramos porcos que são criados em lagoas de chorume, líquido desprendido da decomposição dos resíduos orgânicos carregado de toda sorte de material tóxico e perigoso. Nesta lixeira a céu aberto, trabalham, usualmente também moram, catadores que, em longas horas de trabalho sob o sol de todas as estações, debruçam-se no lixo misturado, podre, com todos os tipos de restos em busca de resíduos recicláveis, a maioria com equipamentos de proteção individual improvisados encontrados no próprio "Lixão". Precarização máxima das condições de trabalho que piora quando o catador assume trabalhar no turno menos concorrido da noite, utilizando lanternas presas ao corpo num ambiente sem iluminação e tem como instrumento de trabalho obrigatório um facão para proteger-se de ratos e cobras atraídos pelo lixo.
Estas pessoas que trabalham com os restos da sociedade são salvadoras, resgatam materiais de valor de serem aterrados, diminuindo a velocidade do esgotamento dos recursos do planeta. Inegavelmente, submetem-se a condições de risco diversos não pelos benefícios da reciclagem à sustentabilidade, mas antes como um meio encontrado para superar a marginalização no mercado de trabalho.
Fica claro que o conceito e hábitos sobre o "lixo" estão equivocados e que suas consequências podem ser perversas. A Diretoria de Sustentabilidade e Integração Social (DSIS) convida toda a sociedade a refletir sobre uma nova forma de interpretar o Lixo que não é lixo, sim material de valor que pode dar dignidade aos catadores quando separados e coletados de forma inteligente. A UFSB quer e vem colaborando com esta nova mentalidade e sensibilidade de forma prática, sendo uma mediadora entre o usuário e o parceiro que dará a destinação adequada aos resíduos que recebe.
* Este texto é o primeira de uma série de publicações, fruto de visitas aos "Lixões" e outras pesquisas no exercício de entender a dinâmica do mercado de resíduos nos municípios de abrangência da UFSB. A equipe é composta por servidores da seção que responde pela coleta seletiva da UFSB ligada à Prosis, dos Setores de Sustentabilidade dos campi e servidores e funcionários da UFSB sensíveis ao tema.
* Fotos : Luana Campinho,Jorge dos Santos, Luce Alves
Escrito por: Luana Campinho Rêgo.
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