Docente da UFSB participa de artigo publicado na Science sobre Florestas regenerantes e seu impacto na natureza
Florestas regenerantes recuperam rapidamente a riqueza de espécies, mas lentamente a composição de espécies
As florestas tropicais abrigam mais de 53.000 espécies de árvores, o que representa 96% da diversidade de árvores do mundo. Estas florestas hiperdiversas estão ameaçadas pelas altas taxas de desmatamento causadas principalmente pela expansão agropecuária. Quando um pasto ou um cultivo agrícola é abandonado, ele pode ser rapidamente colonizado pela floresta que regenera naturalmente, as chamadas florestas secundárias. Poderiam essas florestas secundárias ajudar a reverter a perda de espécies e trazer as espécies nativas de volta?
Uma rede internacional de ecólogos da América Latina, Estados Unidos e Europa, liderada por pesquisadores da Universidade de Wageningen, publicaram esta semana um estudo na revista científica Science Advances onde elucidam o papel das florestas secundárias na conservação de da diversidade de árvores tropicais. A rede inventariou as árvores de 1.800 parcelas em florestas tropicais localizadas em 56 áreas de estudo de 10 países da América Latina. Eles compararam os dados de campo das florestas secundárias de diferentes idades com o de florestas maduras bem conservadas adjacentes. O estudo mostrou que o número de espécies (riqueza) nos fragmentos de florestas regenerantes se recupera em poucas décadas, mas que a composição de espécies pode demorar séculos para se assemelhar às florestas maduras originais ou nunca se recuperar.
A Dra. Danaë Rozendaal, líder do estudo disse “Ficamos impressionados ao descobrir que pode levar apenas cinco décadas para se recuperar a riqueza de espécies que normalmente é encontrada em florestas maduras bem preservadas, e que em apenas 20 anos de regeneração 80% do número de espécies já está presente.” De acordo com a pesquisadora, “Este resultado enfatiza a importância das florestas secundárias para a conservação da biodiversidade em paisagens modificadas pelo homem.”
Apesar da rápida recuperação do número de espécies, o estudo também mostra que as espécies de árvores encontradas nas florestas regenerantes é normalmente diferente daquelas encontradas nas florestas maduras adjacentes. Após 20 anos de regeneração, apenas 34% das espécies são as mesmas encontradas nas florestas maduras. Portanto, pode demorar séculos até que as florestas secundárias recuperem as mesmas espécies da floresta original, se isso realmente chegar a acontecer. O Prof. Lourens Poorter, líder da rede 2ndFOR, diz que “Ainda que as florestas secundárias jovens tenham papel importante na conservação de espécies em paisagens modificadas pelo homem, elas não abrigam muitas das espécies encontradas nas florestas maduras bem conservadas.” Portanto, ele recomenda fortemente que “Ambas as florestas secundárias e maduras devem ser preservadas para garantir a conservação da biodiversidade em paisagens modificadas pelo homem.”
Este estudo singular tem implicações diretas para políticas públicas e para a prática da restauração florestal. A regeneração natural tem sido vista como uma forma ecologicamente eficiente de se recuperar grandes extensões de florestas com menor custo do que plantios de mudas. Realmente a regeneração natural pode ser o método ideal para se atingir as metas de restaurar 350 milhões de hectares de florestas até 2030, como definido no acordo internacional Bonn Challenge.
O Prof. Daniel Piotto, do Centro de Formação em Ciências Agroflorestais da UFSB, que integra a equipe de pesquisadores, diz que “É uma ótima notícia que a regeneração natural pode restaurar a diversidade de árvores relativamente rápido. No entanto, é fundamental que aconteçam também ações de restauração focadas em espécies raras e endêmicas típicas de florestas maduras junto à conservação dos remanescentes florestais para garantir a conservação das espécies de árvores nativas no longo prazo”. No caso específico da Mata Atlântica do sul da Bahia, o Prof Piotto explica que o estudo comprova que as florestas secundárias da região sul da Bahia têm a maior riqueza de espécies de toda a Mata Atlântica, com isso o processo de recuperação da composição e riqueza de espécies encontradas nas florestas maduras da região é muito mais lento, quando comparado com outras regiões da Mata Atlântica, o que reforça a importância da manutenção e criação de novas áreas protegidas para conservação dos remanescentes de florestas mais conservados e para garantir a manutenção das populações de espécies nativas da região.
Informações: Daniel Piotto |
Informações adicionais
Publicação: Danaë M.A. Rozendaal, Frans Bongers, T. Mitchell Aide, Esteban Alvarez-Dávila, Nataly Ascarrunz, Patricia Balvanera, Justin M. Becknell, Tony V. Bentos, Pedro H.S. Brancalion, George A.L. Cabral, Sofia Calvo-Rodriguez, Jerome Chave, Ricardo G. César, Robin L. Chazdon, Richard Condit, Jorn S. Dallinga, Jarcilene S. de Almeida- Cortez, Ben de Jong, Alexandre de Oliveira, Julie S. Denslow, Daisy H. Dent, Saara J. DeWalt, Juan Manuel Dupuy, Sandra M. Durán, Loïc P. Dutrieux, Mario M. Espírito-Santo, María C. Fandino, G. Wilson Fernandes, Bryan Finegan, Hernando García, Noel Gonzalez, Vanessa Granda Moser, Jefferson S. Hall, José Luis Hernández-Stefanoni, Stephen Hubbell, Catarina C. Jakovac, Alma Johanna Hernández, André B. Junqueira, Deborah Kennard, Denis Larpin, Susan G. Letcher, Juan-Carlos Licona, Edwin Lebrija-Trejos, Erika Marín-Spiotta, Miguel Martínez-Ramos, Paulo E.S. Massoca, Jorge A. Meave, Rita C.G. Mesquita, Francisco Mora, Sandra C. Müller, Rodrigo Muñoz, Silvio Nolasco de Oliveira Neto, Natalia Norden, Yule R. F. Nunes, Susana Ochoa-Gaona, Edgar Ortiz-Malavassi, Rebecca Ostertag, Marielos Peña-Claros, Eduardo A. Pérez-García, Daniel Piotto, Jennifer S. Powers, José Aguilar-Cano, Susana Rodriguez-Buritica, Jorge Rodríguez-Velázquez, Marco Antonio Romero-Romero, Jorge Ruíz, Arturo Sanchez-Azofeifa, Arlete Silva de Almeida, Whendee L. Silver, Naomi B. Schwartz, William Wayt Thomas, Marisol Toledo, Maria Uriarte, Everardo Valadares de Sá Sampaio, Michiel van Breugel, Hans van der Wal, Sebastião Venâncio Martins, Maria D.M. Veloso, Hans F.M. Vester, Alberto Vicentini, Ima C.G. Vieira, Pedro Villa, G. Bruce Williamson, Kátia J. Zanini, Jess Zimmerman, Lourens Poorter. Biodiversity recovery of Neotropical secondary forests. 2019. Science Advances 5: eaau3114 Link para o artigo:http://advances.sciencemag.org/cgi/content/full/5/3/eaau3114 2ndFOR – Este estudo é um produto da rede colaborativa em florestas secundárias chamado 2ndFOR. A rede envolve 85 pesquisadores de 16 países, e tem como foco estudar a ecologia, dinâmica e biodiversidade das florestas secundárias tropicais e compreender os serviços ambientais que elas provêem em paisagens modificadas pelo homem. A rede 2ndFOR é coordenada pelo Prof. Lourens Poorter, Prof. Frans Bongers e Dr. Danaë Rozendaal da Universidade de Wageningen, na Holanda. Florestas secundárias tropicais – Florestas secundárias são aquelas que regeneram naturalmente após a remoção da floresta original para uso pelo homem (normalmente cultivos agrícolas, pastagens e agricultura de corte e queima). Atualmente mais da metade das florestas tropicais do mundo não são florestas maduras bem conservadas, mas são florestas secundárias em processo de regeneração. Na América Latina, tais florestas cobrem 28% da zona tropical. Informação para a mídia |
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