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Exibição de filme baiano premiado com presença do elenco estimula debate sobre gênero, sexualidade e família na UFSB

  • Publicado: Sexta, 20 de Julho de 2018, 11h23
  • Última atualização em Sexta, 20 de Julho de 2018, 11h27
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Milla Suzart e Igor Santos, do Grupo de teatro Os Amadores da Arte, de Serra do Ramalho (BA), convidados para atuar na produção audiovisual baiana A cidade do futuro, dirigido por Cláudio Marques e Marília Hughes e lançado em 2016, participaram da exibição e de um bate-papo sobre o filme ontem, 19, no auditório da Reitora, Campus Jorge Amado.

Docentes do Bacharelado e da Licenciatura em Artes da UFSB acolheram a proposta feita pelos artistas, que vieram a Itabuna com recursos próprios, e conduziram o evento, do qual participaram de docentes, estudantes de Artes, Humanidades e outros cursos do CJA, além de membros da comunidade externa.

Maiane dos Santos, estudante do BI em Humanidades, aproveitou a oportunidade para refletir sobre uma temática tratada em um Componente Curricular relacionado ao Direito. Ela contou que “o filme é sobre um tema que a professora havia sugerido quinze dias atrás, que é a união poliafetiva. Ele traz várias concepções de família, ampliando o debate que tivemos em sala, ao abordar uma realidade que vai além do que está posto como padrão. A realidade não é o que o governo ou as leis estabelecem, mas como as pessoas realmente vivem”.

Diversidade de gênero, poliamor, filho, preconceito, violência, intolerância. Poderiam ser palavras-chave para o longa-metragem A cidade do futuro, mas ele é muito mais do que isso. Além de abordar um tema tabu, é uma narrativa cinematográfica poética e tecnicamente bem construída, com uma direção de fotografia que revela a sensibilidade por Cláudio Marques e Marília Hughes.

Eles poderiam ter apelado ao denuncismo puro ou aos clichês que por aí se proliferam, mas preferiram um caminho mais difícil. Resvalar no trivial teria sido fácil, pois os ingredientes estão todos ali: cidade “atrasada” do sertão nordestino, personagens negras e pardas que tentam lutar contra o determinismo social, pobreza, preconceitos, etc.

A história de amor e as reações machistas e homofóbicas foram ligadas, no roteiro, à migração compulsória de moradores pobres de uma localidade do interior da Bahia durante a ditadura militar para a construção da represa de Sobradinho e o que resultou dela: dentre outras coisas, o conservadorismo da cidade de Serra do Ramalho, no Oeste baiano.

De algum modo, o pequeno município é construído no filme como metonímia do Brasil nesses tempos de retrocesso explícito. Desnudar o passado recente que prometeu um futuro que nos chega como seu avesso é um dos méritos do filme. Os fatos históricos e os depoimentos de personagens “reais” não são apenas um pano de fundo. Ao contrário, são essenciais para a crítica histórica, social e cultural que o roteiro imprime, por meio de diversos recursos audiovisuais, narrativos e discursivos deliciosos que impactam pela ironia.

A coordenadora do BI em Artes, professora Alessandra Simões, destacou a importância das linguagens artísticas, ao permitirem a aproximação, cada vez mais forte, entre arte e vida, numa troca. Sobre o filme, a docente e crítica de arte notou “como isso é tão pungente, pois parte da ficção para a realidade, da realidade para a ficção, mostrando como a arte age, não só de forma contemplativa, mas no tecido social, cultural, contextual.” Alessandra pontuou que “essa tendência de se posicionar de modo oposto à espetacularização já existe há bastante tempo no cinema, no audiovisual de modo geral. O espetáculo é uma linguagem da mídia, da manipulação. O cinema feito a partir do cotidiano, com outro tempo, sem grandes manipulações, da vida real, é um cinema que dá espaço para a reflexão.”

João Vitor Militão dos Santos, estudante do BI em Humanidades, reconheceu a importância “do espaço que a universidade abre para que temas como esse sejam debatidos, centrados nas violências que as pessoas sofrem por parte do Estado e da sociedade.”

A Cidade do futuro já foi exibido em 14 países, passando por mais de 30 festivais nas Américas, Europa, Ásia e Oceania. Foi viabilizado pelo edital IRDEB/FSA, programa Brasil de Todas as Telas de 2014, tendo sido realizado com apenas R$ 300 mil. Angariou prêmios no Brasil, dos Estados Unidos e na Argentina.

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