Seminário de Biogeografia em aldeia indígena integra pesquisa sobre Arquitetura Vernacular no Sul da Bahia
A equipe liderada pela professora Sílvia Kimo Costa, responsável pela pesquisa “Arquitetura Vernacular habitacional como expressão ambiental e cultural no litoral Sul da Bahia”, realizou uma ação de educação ambiental junto à comunidade indígena participante. Intitulada “Arquitetura Vernacular Tupinambá: do solo à Bioconstrução - Uma ação de Educação Ambiental na aldeia indígena Itapoã Tupinambá de Olivença, Ilhéus, Bahia", a atividade compreendeu encontros com aulas expositivas ofertadas a estudantes de turmas de Educação de Jovens e Adultos (EJA) sobre solos e um evento de compartilhamento do aprendizado em sala de aula para toda a comunidade da aldeia. O evento ocorreu em novembro de 2019 e a experiência deve ser tema de um artigo, conta a professora Sílvia.
O tema do projeto é a Arquitetura Vernacular, que é "aquela cujo processo construtivo de edificações envolve a extração e utilização de materiais oriundos dos recursos naturais locais, assim como estratégias arquitetônicas bioclimáticas intuitivas. A construção ocorre de maneira coletiva e o conhecimento 'do construir vernaculamente' é passado de pai/ mãe para filha/ filho através das gerações", como explicou a professora Sílvia em uma notícia sobre a arquitetura vernacular praieira. Nesse sentido, pode-se falar de arquiteturas vernaculares como geografica e culturalmente localizadas, constituindo tradições ligadas a comunidades espacialmente delimitadas, e que usam os recursos materiais disponíveis no local e técnicas específicas para as construções.
A líder da pesquisa, professora Sílvia Kimo Costa, apresenta essa etapa do projeto.
De que trata a pesquisa?
A pesquisa trata da ação de Educação Ambiental intitulada Arquitetura Vernacular Tupinambá: do solo à Bioconstrução, vinculada à pesquisa-ação Arquitetura Vernacular habitacional como expressão ambiental e cultural no litoral Sul da Bahia que vem sendo desenvolvida desde 2016. As atividades da ação pautaram-se no Protocolo de aprovação CONEP 2.552.460/ 2018.
A ação de Educação Ambiental ocorreu durante o segundo semestre letivo de 2019 e objetivou compartilhar com as/os discentes das turmas de Educação de Jovens e Adultos (EJA), da aldeia indígena Itapoã Tupinambá de Olivença, o conhecimento referente ao tema “solo”. A ação foi idealizada no Componente Curricular Geografia.A idealizadora da ação foi a professora Vanessa Rodrigues, mulher indígena, bacharel em Geografia e discente do Mestrado em Ensino e Relações Étnico - raciais (PPGER/ UFSB), além de integrante da equipe de pesquisa envolvida no projeto.
A metodologia compreendeu a discussão do tema solo a partir do relato de cada discente no processo de construção em mutirão das habitações; aulas expositivas abordando a literatura técnico-científica sobre o assunto e um “Seminário de Biogeografia” que objetivou compartilhar as atividades desenvolvidas em sala de aula com toda Comunidade.
Qual a contribuição dos resultados obtidos da ação para o avanço da Pesquisa?
A ação surgiu da constatação de que o conhecimento sobre o “solo” vem sendo adquirido intuitivamente pelas/os discentes quando participam do processo de construção das habitações em Pau-a-Pique na aldeia.
A construção em Pau-a-Pique na aldeia Itapoã Tupinambá de Olivença é imprescindível para a manutenção do processo cultural e ambiental de construção em mutirão. Além disso, a técnica bioconstrutiva é uma referência de construção vernacular sustentável do ponto de vista sócio-econômico-ambiental e cultural, pois apresenta baixo consumo de energia associado; é constituído por materiais naturais e recicláveis; apresenta conforto térmico decorrente da baixa condutividade térmica e provoca baixo impacto ambiental no ecossistema local.
Como foi feita a ação?
A ação compreendeu duas etapas:
1ª Etapa: “O que aprendemos na aldeia”
Essa etapa compreendeu a discussão do tema solo e seu uso na construção das habitações da aldeia a partir do relato de cada discente.
2ª etapa: “O que a literatura técnico-científica tem a nos ensinar”
Essa etapa compreendeu aulas expositivas e discussão com base na literatura técnico – científica sobre o tema solo e sobre o processo bioconstrutivo do Pau-a-Pique.
Após as atividades desenvolvidas em sala de aula, a turma de discentes (EJA) foi dividida em dois grupos e cada grupo confeccionou uma maquete de habitação construída em Pau-a-Pique utilizando os materiais naturais disponíveis no local.
Por conseguinte, as atividades foram apresentadas a toda comunidade por meio do “Seminário de Biogeografia” nos dias 18 e 19 de novembro de 2019. No dia 18 foram apresentados os conteúdos discutidos com as/os discentes durante as aulas. No dia 19 foram apresentados os resultados das oficinas de Bioconstrução, que ocorreram na aldeia entre os meses de agosto e novembro de 2019.
O seminário contou ainda com a participação de profissionais das áreas de Arquitetura e Engenharia Civil (que trabalham com Bioconstrução), para compartilhar procedimentos que aprimoram a técnica bioconstrutiva do Pau-a-Pique, com enfoque na melhoria da resistência da argamassa de “barro”.
Qual a importância da ação?
A Educação Ambiental não se restringe ao ambiente escolar, envolve práticas socioeducativas não formais praticadas pela comunidade local. Trata-se da EA popular. Quando o contexto envolve comunidades tradicionais, a EA possibilita uma relação mais estreita entre o processo educativo e a realidade vivida, estruturando atividades pedagógicas baseadas em problemas reais e imediatos.
O que os resultados informam?
Cerca de 30 pessoas, incluindo a docente do componente curricular Geografia, lideranças, além das/os discentes e crianças participaram da ação de Educação Ambiental. Durante os dois dias a professora, as/os discentes e profissionais convidados das áreas de Arquitetura e Engenharia Civil compartilharam conhecimento e aprenderam com a comunidade.
A ação foi considerada positiva pelas/os discentes e pela comunidade no que tange ao aprendizado do tema e foi sinalizada como estratégia educacional a ser empregada em outros componentes curriculares.
Equipe da Pesquisa “Arquitetura Vernacular habitacional como expressão ambiental e cultural no litoral Sul da Bahia” e responsáveis pela ação de Educação Ambiental:
Vanessa Rodrigues dos Santos. Pós-graduanda em Ensino e Relações Étnico-raciais PPGER/ UFSB. Bacharel em Geografia.
Leandro Ricardo dos Santos Souza. Pós-graduando em Engenharia Ambiental Urbana PPGEAU/ UFSB Engenheiro Civil
Marilindi Venturim. Discente do curso de Arquitetura e Urbanismo FMT, Ilhéus, BA. Participante voluntária.
Dra. Silvia Kimo Costa. Profa. Adjunto do Centro de Formação em Políticas Públicas e Tecnologias Sociais/ UFSB. Coordenadora da Pesquisa; Dra. Desenvolvimento e Meio Ambiente e Arquiteta e Urbanista.
Os resultados da ação serão publicados em artigo submetido à Revista REMEA (ISSN: 1517-1256).
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