Projeto de extensão desenvolve fotonovelas para comunicar sobre educação em saúde
A educação em saúde é uma necessidade de primeira ordem no Brasil, o que estimula a investigação sobre diferentes meios para apresentar e construir esses conhecimentos junto a diferentes públicos. Um projeto de extensão desenvolvido no Campus Paulo Freire da Universidade Federal do Sul da Bahia explora o interesse pelas fotonovelas e os potenciais desse formato midiático para apresentar saberes sobre prevenção e autocuidado. É o projeto Papo de Mulher, apoiado pela Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (PROEX/UFSB) e que foi apresentado na forma de comunicação oral no XVI ALAIC 2022, evento internacional organizado pela Asociación Latinoamericana de Investigadores de la Comunicación (ALAIC) e Federación Argentina de Carreras de Comunicación Social (FADECCOS) de 26 a 30 de setembro em Buenos Aires, Argentina.
O trabalho apresentado intitula-se Mapeamento da utilização de Fotonovelas na educação e comunicação em saúde (Mapping the use of fotonovelas in health education and communication) e é de autoria da professora Danielle Barros Fortuna, coordenadora do Papo de Mulher, e da bolsista de extensão e discente de Medicina Evllin Sousa Cardoso Oliveira. A equipe conta ainda com a colaboração voluntária das monitoras, e discentes da Licenciatura Interdisciplinar em Ciências da Natureza e suas Tecnologias, Maria Aparecida Reis de Souza, Jaqueline Pessoa Gonzaga e Ane Cattariny Nossa.
A professora Danielle conta que o trabalho apresentado na ALAIC é parte da pesquisa desenvolvida, e que a ideia para realizar o estudo surgiu com a oficina de Fotonovelas desenvolvida pelo projeto Diálogos sobre Saúde e Sexualidade entre Mulheres através de Fanzines (Papo de Mulher), aprovado no edital 02/2021 de Extensão Popular da Universidade Federal do Sul da Bahia (PROEX-UFSB). "Nos interessava conhecer como as fotonovelas têm sido utilizadas na área. Portanto, o objetivo consistiu em investigar como as fotonovelas são utilizadas no contexto da educação e comunicação em saúde através de uma pesquisa exploratória, verificando: em que contexto as fotonovelas têm sido utilizadas; levantamento dos temas abordados; onde são desenvolvidas (países); identificar os públicos aos quais as fotonovelas são dirigidas", detalha a docente.
Conforme a professora Danielle, a pesquisa de cunho exploratório utilizou o unitermo “Fotonovela” acessando a base de dados Pubmed, a partir de critérios de inclusão e exclusão pré estabelecidos. O uso desta base de dados justifica-se por ser uma plataforma de gratuita, considerada uma das principais fontes de informação bibliográfica em saúde de acesso público da literatura internacional especializada da área médica, biomédica e ciências da vida. "Nos resultados iniciais tivemos a recuperação de 35 artigos que, após leitura dos títulos, resumos e aplicação de critérios para ampliar o escopo da busca exploratória, recuperou 28 artigos que foram analisados, cujos resultados finais estão apresentados no trabalho completo que será publicado em breve nos Anais do evento", explica Danielle.
Apropriação do formato em prol da educação em saúde
A ideia principal do projeto Papo de Mulher é criar livres espaços de conversas através do compartilhamento de experiências e conhecimentos sobre autonomia, saúde e sexualidade da mulher através de atividades lúdicas e criativas a fim de incentivar a educação popular em saúde. A pesquisadora e professora Danielle explica que os materiais educativos são ferramentas importantes para a mediação de conhecimentos entre profissionais e públicos no âmbito das práticas educativas em saúde. Assim, pode-se contar, em tese, com uma variedade de formatos e suportes, tanto na versão multimídia, digital e/ou impressa: vídeos, folhetos, panfletos, cartilhas, histórias em quadrinhos, folderes, almanaques, cartazes, fanzines, fotonovelas, entre outros. "Considerando que o projeto Ciarte (Ciência, Arte e Ensino) - de onde surgiu o projeto Papo de Mulher, - já tem uma trajetória de atuação na educação científica através de jogos didáticos, fanzines, histórias em quadrinhos, modelos didáticos, partiu-se da hipótese de que as oficinas dialógicas com criação de fanzines e fotonovelas seriam adequadas para promover esse espaço de criatividade e construção de conhecimentos, além da popularização da ciência", afirma Danielle. A possibilidade de criar e formatar as mensagens de acordo com o objetivo e os meios disponíveis é um forte apelo. As fotonovelas unem as linguagens das histórias em quadrinhos e da fotografia, explica a professora: "Apesar da fotonovela ter surgido enquanto produto da comunicação de massa no âmbito da indústria cultural, em nosso projeto, nos apropriamos da fotonovela enquanto linguagem na perspectiva da produção autoral e independente, aplicando-a ao contexto da educação e comunicação em saúde."
O formato das fotonovelas, como demonstra a literatura analisada no projeto, tem um histórico de uso em iniciativas de educação popular para a saúde, muito por conta de suas características, como indica a professora Danielle: "As fotonovelas têm como atributos elementos visuais envolventes, possibilitam a representação de aspectos culturais, apresentam texto de fácil entendimento com mensagens educacionais inseridas em uma história dramática e divertida, personagens em situações cotidianas comuns as quais os públicos podem se identificar e se sensibilizar sobre questões de saúde, promoção da saúde e combate a estigmas. Por fim, diversas pesquisas referenciam que as fotonovelas têm sido utilizadas com populações para comunicar mensagens sobre diversos temas como HIV, tuberculose, diabetes, pesticidas, demência, depressão, doença de Alzheimer, obesidade, asma, câncer de mama, HPV, entre outros; o que reforça a escolha por essa linguagem em que as participantes atuam de forma protagonista e criativa".
Outro trabalho decorrente do projeto é o relato de experiência da oficina de Fotonovelas, ocorrida em março de 2022 de forma remota. A atividade resultou na primeira edição do Papo de Mulher: Almanaquezine de Fotonovelas, com 24 páginas coloridas, contendo oito histórias elaboradas por Aline Baffa, Ana Basaglia, Andréa Rocha, Ane Cattariny Nossa, Danielle Barros, Evllin Oliveira, Jéssica Souza e Thina Curtis. "Sobre esse recorte, apresentamos trabalho no VI Fórum Nacional de Pesquisadores em Arte Sequencial (FNPAS), intitulado Fotonovelas sobre vida, saúde e sexualidade feminina: Produções autorais no contexto da Educação Popular em saúde (Projeto Papo de Mulher - UFSB/PROEX)", detalha a professora Danielle Barros.
Enquanto o trabalho apresentado na Argentina era uma revisão bibliográfica, o outro já expõe a experiência de produzir uma edição com fotonovelas, explorando na prática a linguagem do formato. Esse esforço resultou do percurso realizado durante a oficina, como relata a coordenadora do projeto: "Conceituamos os diferentes formatos entre novela, radionovela, telenovela e fotonovela, trazendo as características históricas, culturais e problematizando a relação das fotonovelas com o público feminino. No decorrer, ainda utilizamos charges, tirinhas e memes para discussão provocativa e reflexiva de diversas temáticas acerca da autonomia feminina como corpo, questões de gênero, violências físicas e psicológicas, saúde mental, estereótipos, maternidade, autocuidado etc. A partir desse diálogo, cada participante escolheu o tema que gostaria de tratar em sua fotonovela. Os assuntos abordados pelas autoras tangenciaram sobre a autonomia feminina em distintos contextos sociais como trabalho, família, pobreza menstrual, assédio no mundo acadêmico, educação, saúde mental, aleitamento materno, racismo, infância, política, etc".
Próximos passos
A primeira edição estará disponível nas versões impressa e digital, com a previsão de uma live no dia 26 de novembro para oficializar o lançamento do almanaquezine. A versão impressa deve ter nova tiragem em breve para envio dos exemplares para acervos de fanzinotecas, gibitecas e bibliotecas de instituições públicas da Educação básica e Ensino Superior. A primeira leva de impressões consistindo de 60 exemplares custeados pela coordenação do projeto para envio às autoras e divulgação no evento da ALAIC. A edição digital, por outro lado, já pode ser acessada neste link.
O projeto vai participar da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia deste ano com uma oficina chamada “Lambe Arte na Educação Científica”. Conforme a professora Danielle, o lambe arte ou lambe-lambe surgiu no século XIX com o advento da impressão em massa. A divulgação de espetáculos, produtos, política, poesia, protestos, expressões artísticas, transações comerciais, etc. era feita por meio desses artefatos populares em forma de cartaz, disseminados no meio urbano. "Atualmente, o lambe arte tem sido utilizado como proposta de ensino e aprendizagem em diversos contextos interdisciplinares, unindo as artes visuais, cultura, comunicação, movimentos sociais e educação, e nós, do projeto Papo de Mulher propomos o lambe arte para a educação científica e abordagem de temáticas relevantes a nós, mulheres e à sociedade como um todo".
A vigência da bolsa do projeto se encerra neste mês de novembro, e a ideia é dar continuidade com a participação em outros editais. Com isso, não apenas o projeto prossegue como as discentes podem seguir em seu desenvolvimento acadêmico nos caminhos da pesquisa e da extensão, apoiadas pelas bolsas concedidas ao projeto. A coordenadora do Papo de Mulher destaca que, considerando as metas estipuladas pela Política Institucional de Pesquisa, mais precisamente no Plano Interno de Pesquisa 2022-2025 IHAC- Campus Paulo Freire, "o projeto contribuiu para as demandas do Plano Interno de Pesquisa da universidade ao promover a participação de estudantes de graduação nas atividades, possibilitou a divulgação do conhecimento gerado para a comunidade externa à academia, proporcionou a participação de docentes e discentes em eventos, congressos e similares, concebendo esses espaços como oportunidade de divulgação, articulação e intercâmbio do conhecimento científico, uma das metas mais eminentes no âmbito da pesquisa e da extensão na universidade, além de abordar questões vinculadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas."
O projeto Papo de Mulher está vinculado ao projeto Ciarte e ao Laboratório Atelier de Educação Popular em Saúde (LAEPS). A professora Danielle explica que o projeto também se articula às ações do projeto CartoZine, que foi contemplado no edital 14/2019 (PROSIS/UFSB), ainda ativo mesmo sem vigência de bolsa. Outra conexão da iniciativa é com o curso de Licenciatura Interdisciplinar em Ciências da Natureza e suas Tecnologias e com a Cátedra Paulo Freire UFSB, implementada no Campus Paulo Freire, cujo Grupo de Trabalho teve a professora Danielle Barros como integrante da comissão.
A apresentação de resultados do projeto, segundo a professora Danielle, até o momento é a seguinte:
Trabalhos apresentados:
• VI Fórum Nacional de Pesquisadores em Arte Sequencial (FNPAS), intitulado: “Fotonovelas sobre vida, saúde e sexualidade feminina: Produções autorais no contexto da Educação Popular em saúde (Projeto Papo de Mulher - UFSB/PROEX)”, remota, novembro de 2022.
• Congresso de Extensão (CONEX), intitulado: “Tecendo diálogos e reflexões sobre saúde e sexualidade feminina através de fanzines”, remota, novembro de 2022.
• XVI Congreso de la Asociación Latinoamericana de Investigadores de la Comunicación (ALAIC), intitulado: “Mapeamento da utilização de Fotonovelas na educação e comunicação em saúde”, setembro de 2022, Buenos Aires, Argentina. – com artigo completo a ser publicado nos anais do evento.
Desenvolveu uma oficina e tem outra prevista para novembro:
• Oficina de Fotonovelas - Práticas Pedagógicas com Ciência e Arte, remota, março de 2022.
• Semana Nacional de Ciência e Tecnologia de 2022 - Lambe Arte na Educação Científica. Presencial, Campus Paulo Freire, novembro de 2022.
Exposição prevista para novembro:
• Semana Nacional de Ciência e Tecnologia de 2022 - Lançamento do Papo de Mulher - Almanaquezine de Fotonovelas. Presencial, Campus Paulo Freire, novembro de 2022.
As atividades do projeto do Papo de Mulher podem ser acompanhadas nos perfis do projeto no Instagram: https://www.instagram.com/papodemulherufsb/ e https://www.instagram.com/projetociarte/.
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