Oficina Inventar com a Diferença no PROEXT: Cinema e Direitos Humanos
O Atxohã, grupo de pesquisa sobre língua e cultura Pataxó, conjuntamente com o PROEXT, Programa Arte, história e língua maxakali-pataxó: educação pública intercultural e integral na região Sul da Bahia, promoveu a oficina de cinema do projeto Inventar com a Diferença durante o mês de outubro de 2016. O curso foi voltado para os professores Pataxó da língua Patxohã, que trabalham na região do extremo sul da Bahia. A oficina foi ofertada em dois territórios, um que compreende as aldeias que se localizam na região de Porto Seguro – Cabrália, outro que compreende a Aldeia Cahy, localizada em Cumuruxatiba. A responsável pela oficina foi Clarissa Nanchery, coordenadora pedagógica do Projeto Inventar com a Diferença – Cinema e Direitos Humanos (UFF/ SDH), produtora e realizadora audiovisual que atua na área de cinema e educação desde 2007. Participaram das oficinas os estudantes bolsistas do PROEXT do Campus Paulo Freire e Itabuna e os professores Alessandra Simões, André Rego, Rosângela de Tugny e Spensy Pimentel.
A oficina de cinema busca, inicialmente, suprir a necessidade dos professores indígenas em realizarem cursos de formação que auxiliem na construção de novas ferramentas didáticas capazes de potencializar as questões linguísticas e culturais específicas dos Pataxó.
O projeto Inventar com a Diferença promove oficinas de cinema usando como didática o trabalho em torno dos dispositivos técnicos e estéticos do cinema, realizando exercícios de filmagem e edição que buscam dar enfoque para alguns aspectos essenciais da construção audiovisual. As oficinas são realizadas em torno de várias produções audiovisuais, abrindo, a partir da experiência de filmagem e edição, o caminho para a discussão teórica acerca do cinema.
Como dispositivo final, cada grupo de professores construiu um filme-carta. O filme produzido pela comunidade Pataxó da região de Coroa Vermelha, Em todos os lugares #Somos Pataxó, traz testemunhos sobre o que é ser Pataxó no mundo contemporâneo. Contrapondo com a ideia de que os povos tradicionais perdem sua identidade se usam a tecnologia do homem branco, o filme afirma que a cultura Pataxó também muda e o uso da tecnologia dos brancos serve muitas vezes como arma para divulgar a cultura tradicional pataxó, como é o caso do próprio curta-metragem, que reafirma continuamente o ser Pataxó. A língua dos guerreiros Pataxó, o Patxohã, constrói toda a narração do filme, dando mais força ainda para a elaboração de um contra discurso de resistência.
Em outro território, os professores que realizaram curso na Aldeia Cahy trouxeram outras questões no filme carta produzido. O território que compreende Cumuruxatiba é marcado por graves conflitos contra o povo Pataxó. Desde o ano de 2015, diversas aldeias sofrem grande ameaça de despejo além que contínuos ataques. A Aldeia Cahy, uma das que se encontra em mais delicada situação, sofreu naquele ano a destruição do centro cultural e a tentativa de assassinato de lideranças por pistoleiros. O curta Aos que sempre lutaram traz esse aspecto da luta contra o massacre do povo Pataxó homenageando os “troncos-velhos”, as antigas lideranças, que combateram pela demarcação da terra indígena e inspiram os mais novos a continuarem a luta.
Ambos filmes carregam, além do testemunho inequívoco da história vivida por sujeitos emblemáticos entre os povos originários que ocupam a região desde tempos imemoriais, formas sutis de pensar a imagem no mundo contemporâneo, contrastando-se com o estatuto da imagem na sociedade do espetáculo. Percebemos nestes filmes-cartas que as vozes, os gestos, as sonoridades, a memória são acolhidos na duração de um cinema generoso, hospitaleiro, que supõe e deseja a presença de um espectador.
Texto de Victor André
Estudante do BI Saúde UFSB / IHAC CSC
Bolsista do PROEXT
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