Desafios para educação, inovação e ciência no século 21 foram o tema da abertura do 6º CIPCI
A abertura da sexta edição do Congresso de Iniciação à Pesquisa, Criação e Inovação da Universidade Federal do Sul da Bahia ocorreu nesta segunda-feira (7), com transmissão via canal do Auditório Virtual no YouTube. A primeira atividade do evento foi a conferência de abertura proferida pelo professor titular aposentado da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e pró-reitor de Pós-graduação e Pesquisa do Centro Universitário SENAI-CIMATEC, professor Jailson Bittencourt de Andrade. Após breves falas do pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação (PROPPG), professor Rogério Hermida Quintella, e da reitora, professora Joana Angélica Guimarães da Luz, a coordenadora de Pesquisa da PROPPG, professora Ângela Sivalli Ignatti, atuando como mestra de cerimônias, falou sobre o evento.
Nos próximos dias, 100 estudantes, quase 200 docentes nas bancas de avaliação e 30 pessoas envolvidas na organização do evento nos três campi vão trabalhar para que a pesquisa produzida pelos estudantes seja apresentada e avaliada. É o momento de ver os planos de trabalho e projetos desenvolvidos e de verificar a formação de novos profissionais e pesquisadores na instituição. A professora Ângela agradeceu aos coordenadores locais e às equipes técnicas de apoio à realização do 6º CIPCI. Ela também agradeceu aos avaliadores institucionais do evento pelo CNPq e pela UFSB pelo acompanhamento do congresso.
O fazer científico em prol de todos
Em seguida, o professor Jaílson iniciou sua fala sobre o tema "Século XXI: Desafios e Oportunidades em Ciência, Tecnologia e Inovação". A palestra e a sessão de perguntas está gravada e disponível no YouTube.
Com reflexões que costuraram análises sobre os avanços científicos e tecnológicos, lembranças de situações de sua carreira como pesquisador e gestor e muito bom ânimo e humor, o palestrante traçou o panorama de expectativas, demandas e chances presentes no momento em termos de produção acadêmica e sua relação com a sociedade. O professor Jaílson iniciou falando dos "magistérios não-interferentes", a Ciência e a Religião. Segundo o pesquisador, é essencial que esses dois domínios nunca interfiram um no outro, pois quando isso ocorre é desastroso, a exemplo da condenação de Galileu Galilei pela Inquisição por conta da defesa da tese heliocêntrica. O estabelecimento do colégio invisível, por personalidades como a de Isaac Newton, vigorou com base no mote Nullius in verba, nada pela palavra apenas, em latim, marcou esse distanciamento entre o dogma e o saber sistematizado, prosseguiu o palestrante. Esse momento definiu o experimentalismo como palavra de ordem para o nascente campo científico e firmou dois "magistérios interferentes", a Excelência e a Ética, como parâmetros centrais do agir científico ciência até hoje.
Com esse preâmbulo, o professor Jaílson passou a abordar o que vem a ser o ciclo virtuoso da ciência (gerar, difundir e apropriar o conhecimento científico), com benefícios que chegam ao setor empresarial à sociedade em geral, com o governo desempenhando o papel de principal financiador do desenvolvimento científico e tecnológico. Esse processo envolve a pesquisa básica e a pesquisa tecnológica. A primeira envolve a formação de cientistas e gera conhecimentos que podem ser de interesse futuro da indústria, sendo um investimento de longo prazo e com o governo sendo principal financiador. Já a apropriação do conhecimento vem da pesquisa tecnológica, que pode resultar em novos produtos e inovação, com interesse comercial imediato, resultado a curto prazo, financiada principalmente pelo setor privado.
Outro ponto abordado pelo palestrante é o conceito de inovação, que torna a invenção algo acessível e de uso prático. A inovação é produto colaborativo e promove forte impacto nos padrões de vida e mudanças na sociedade, requerendo para isso liberdade de pensamento e de cooperação. Para o professor Jaílson, o século 21 é o século da convergência científica e tecnológica, no qual as fronteiras disciplinares estão se confundindo. Essa mistura de áreas está ligada aos pilares da educação, da inovação e da interdisciplinaridade, com o grande objetivo da sustentabilidade. Na comparação com o século anterior, em que predominou a disciplina, o atual quer resultados sustentáveis e pouco se prende aos limites disciplinares.
Estratégias nacionais e globais
A relação entre ciência, governo e sociedade esteve presente também na explicação do professor Jaílson sobre a Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação 2016-2022. O documento foi muito impactado pelas diversas mudanças ministeriais e pelo turbulento cenário nacional dos últimos anos. Como eixos prioritários, o documento destaca capital humano, financiamento, pesquisa e infraestrutura, tecnologia e inovação, marco legal. O objetivo é que o Brasil incorpore Ciência, Tecnologia e Inovação como política de estado, de modo permanente. Outro aspecto são os desafios atuais, como a sustentabilidade, a inovação e tecnologia e a multidisciplinaridade. Ele apresentou a analogia com o vegetal, começando com a raiz (educação), o caule (pesquisa básica) e flores, folhas e frutos. Em cada um dos eixos o foco é a valorização dos elementos básicos; assim, no eixo capital humano, por exemplo, a valorização salarial e formativa dos professores é um dos pontos essenciais para atrair talentos para a docência em todos os níveis.
O professor Jaílson anotou ainda que a inovação como viabilizadora das invenções afeta profundamente as sociedades, como aconteceu com a primeira revolução industrial (máquina a vapor e ferrovia), a segunda revolução industrial (eletrificação), a terceira (uso intenso de computadores e internet) e como está ocorrendo com a quarta revolução (conectividade dos aparelhos, internet das coisas, indústria 4.0). Isso altera também a expressão dos conflitos: a guerra do século XXI é a guerra da internet 5G, em andamento, pelo ligação que tem com investimentos e gestão da infraestrutura de telecomunicações. O aprendizado de máquina é outro advento de imenso impacto na sociedade, como na produção de itens de alto valor agregado e eliminação de custos, incluindo empregos.
Educar para inovar e inovar para educar foi o argumento do professor Jaílson (centro) na sua conferência.
Na linha do tempo exposta pelo professor, diversos adventos de conhecimento foram aprimorando a qualidade de vida e trazendo novos desafios, com a extensão da duração da vida humana. Para ele, isso indica que o avanço científico promovido no século passado garantiu essas melhorias, apesar dos danos ambientais e da desigualdade social e econômica, uma vez que essas benesses não foram distribuídas de forma equânime. Para mudar esse cenário, a ONU desenvolveu os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. O professor Jaílson argumenta que os ODS são completamente interdependentes, em qualquer ângulo que se observe.
Na sua conclusão, o palestrante argumentou que o cientista ideal do século 21 deve pensar livremente como um poeta, trabalhar com exatidão feito um contador e escrever como um jornalista, sendo capaz de explicar o que faz para uma pessoa na rua entender. Isso leva à mudança nos atributos que se deve trabalhar na formação de novos cientistas, incluindo pensamento crítico, capacidade comunicativa, cooperação, criatividade, ética, humanismo, capacidade de aprender coisas novas, preservar o equilíbrio perante o novo, o estilo de vida sustentável, o respeito à diversidade.
A seguir, o professor Jaílson respondeu perguntas do público que acompanhou a palestra sobre a educação para ciência, o papel das sociedades científicas e das publicações especializadas na difusão do conhecimento, junto com passagens de sua atuação como pesquisador e docente.
Agenda
O 6º CIPCI tem atividades programadas para os dias 8, 9 e 10 de dezembro, com especial atenção para as sessões de apresentação dos planos de trabalho desenvolvidos no âmbito do Programa de Iniciação à Pesquisa, Criação e Inovação (PIPCI). Para acompanhar as atividades, veja o site do evento.
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