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Artigo descreve experimento no ensino de inglês com temas da realidade de estudantes

Escrito por Heleno Rocha Nazário | Publicado: Quarta, 30 de Outubro de 2019, 15h00 | Última atualização em Quarta, 30 de Outubro de 2019, 15h28 | Acessos: 5608

1980 5314 cp 49 173 208 gf1Um experimento no ensino do idioma inglês nos componentes curriculares oferecidos na Rede Anísio Teixeira de Colégios Universitários é o tema do artigo Ethnicity and Race in English language activities at a university in Bahia, publicado na revista Cadernos de Pesquisa, da Fundação Carlos Chagas. No texto, o professor Gabriel Nascimento, atuante no Campus Sosígenes Costa, relata a experiência metodológica e analisa os resultados obtidos nas aulas de leitura, conversação e escrita na língua inglesa por alunos ao longo de três quadrimestres letivos. A diferença foi a conexão entre o aprendizado do vocabulário, da pronúncia e da gramática de uma língua estrangeira e os temas etnicorraciais e sociais que fazem parte do cotidiano de estudantes negros e indígenas. O que o professor Gabriel queria entender era como essa abordagem poderia melhorar os índices de aprendizado desse público, que em geral chega à sala de aula com poucas habilidades básicas no idioma.

O resultado aponta que conhecer os objetivos dos alunos, ou o propósito específico (specific purpose), e alinhar as aulas com a discussão desses temas gera mais engajamento da turma, estimula cada pessoa a aprender mais. Na comparação com as aulas mais tradicionais, a abordagem dos temas como etnia, raça, a realidade social e econômica do local onde moram os estudantes, normalmente ausente do processo de ensino-aprendizagem, torna mais instigante o estudo do idioma inglês. É uma mudança não apenas no ritmo e forma das aulas, mas a ressignificação de um método de ensino de idioma.

O ensino de inglês para fins específicos (ESP, na sigla original) em geral é voltado para a área de negócios ou para especialidades profissionais, refletindo a origem como um instrumento da expansão do idioma como nova língua franca, na esteira da globalização. A influência do pensamento de Paulo Freire no trabalho de autores sobre o método ESP é mencionada no artigo como sendo um dos fatores na proposição de alternativas para engajar estudantes sem o contato prévio com o idioma. No caso das aulas constantes do estudo, tratou-se de repensar e praticar o ensino de inglês junto a estudantes pertencentes a públicos com referências culturais e vivências muito diferentes do jovem urbano - o que significou tanto saber quais as dificuldades específicas dos jovens em relação ao segundo idioma quanto trazer os temas de etnia e raça, bem como as situações locais, para dentro das aulas

Assim, na turma de Comunicação Oral em Inglês, grupos foram organizados em torno de apresentações temáticas: empregos, ciência, Internet e mercearia. Um dos grupos montou uma feira de rua, com as etiquetas de preço e os anúncios em inglês. A atividade fez os estudantes perceberem, por exemplo, que por vezes é melhor não tentar traduzir termos locais, como a fruta popularmente chamada de "biri-biri", para outro idioma. Atividades nas aulas dos componentes de Compreensão Textual e de Produção de Textos tiveram a mesma intenção ao incluir os temas de etnia, raça, gênero, ciência e ao permitir que a turma explorasse textos e palavras em uma gama de atividades, como a encenação, a transformação de gêneros e formatos textuais e a produção de outras formas de expressão, como o protesto, a partir das leituras apresentadas em aula.

O professor Gabriel falou a respeito do experimento para a seção UFSB Ciência.

 

Que diferenças em termos de aprendizagem, engajamento e avaliação dos alunos esse experimento registrou, na comparação entre o ESP e o formato tradicional, sem o propósito e a avaliação das necessidades dos estudantes?

capa artigo

Gabriel Nascimento - A aula tradicional nos obriga ou a um formato de aula expositiva ou a um formato de aula de língua inglesa com livro didático. Esses dois formatos são possíveis, mas, no caso da UFSB, não focam nos objetivos específicos dos próprios estudantes. O experimento em cada turma revelou mais engajamento e vontade de continuar aprendendo a língua. Além disso, aguçou a criatividade dos próprios estudantes.
 
A decisão pelo método ESP envolveu não apenas uma escolha pedagógica, mas também a definição do "propósito" dos componentes curriculares como sendo a discussão das realidades locais, em especial os temas de raça e etnia no extremo sul. É, por assim dizer, um uso de um método de ensino de origem colonialista para fins decoloniais?
 
Gabriel Nascimento - Obrigado por essa pergunta. A diferença entre o pós-colonial e o decolonial como nichos intelectuais está na visão do pós-colonial é simplesmente passar a ignorar ou romper com o aparelhamento colonial. O decolonial implode o aparelhamento, dando a ele outra significação. Foi o que eu tentei fazer. Os métodos ligados a fins específicos no Inglês nunca englobam raça e etnia e sempre focam no mundo dos negócios, etc. No entanto, se observarmos o plano orientador e os documentos oficiais da UFSB, veremos que aqui o inglês surge com o caráter de Inglês para Fins Acadêmicos, mas as pessoas que entram nesse lugar não podem simplesmente receber aulas de leituras porque mal têm habilidades básicas na língua como conhecimento prévio. Por isso, mesclar abordagens é fundamental para esse tipo de realidade, possibilitando, desde sempre, o retorno crítico sobre o que estamos fazendo em sala de aula. 
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